segunda-feira, 4 de julho de 2016

Espirros, coriza e os sinais imperceptíveis: a barreira psicológica.





Admitir ou não que uma empresa precisa de ajuda é uma barreira psicológica, que muitas vezes impede a recuperação de um negócio.

Todos nós, em algum momento das nossas vidas, precisamos dar um passo atrás, rever decisões ou buscar amparo em profissionais mais experientes.

É parecido quando espirramos, e em geral não damos muita importância ao fato, acreditando que o espirro é um episódio esporádico com causa externa.

Se o corpo não repetir o espirro, confiamos que está tudo bem. Afinal a mente é assim: superada a consequência, tocamos a vida em frente sem muita preocupação se houve ou não alguma sequela ou se há algo mais grave se avolumando.

Mas se os espirros se intensificam ou surge uma coriza, então entendemos que é hora de tomarmos alguma providência, um antigripal e muitas vezes preferimos acreditar que está tudo bem, afinal confiamos na capacidade do sistema imunológico do nosso corpo.

E sim, realmente, muitas vezes o corpo se recupera superando aquele fato.

Mas, se não dermos importância e deixamos a doença progredir, se instalando de maneira sorrateira até minar nossa resistência? O resultado pode ser muito grave.

Às vezes, superar a inércia e o medo de que algo mais grave esteja acontecendo e perceber que os sintomas são sinais importantes de adoecimento levam um tempo precioso que o corpo não dispõe.

Nessa situação de agravamento, é iminente ir ao médico e buscar ajuda externa e cuidados, sem o que os resultados possam significar a diferença entre a vida e a morte.

Nas empresas não é diferente, muitas vezes os sinais aparecem de maneira quase imperceptível. Pequenos desajustes, erros operacionais, reclamação de cliente, falta de caixa, atrasos nos recebimentos ou mesmo a queda nas vendas ou um pedido de demissão inesperado de algum profissional sem motivo aparente.

Se não damos atenção a esses fatos corriqueiros, podemos, sem perceber, deixar que a “doença” vá se instalando de maneira gradativa até um ponto em que já seja difícil o “corpo/empresa” se recuperar por sua própria biologia interna.

A situação pode se agravar se gestores e acionistas levarem muito tempo para começar a perceber esse estágio e iniciar ações de cuidado. Nesses casos, os cuidados internos, embora necessários, podem já não ser suficientes para estimular a recuperação da empresa / corpo adoecido.

Outro fator importantíssimo é a negação dos fatos. O exemplo do paciente, que imagina que o espirro é apenas um fator exógeno, muitas vezes, equivale ao de gestores que, mesmo com dados e sentindo os efeitos do adoecimento da sua empresa, entram num processo de negação da realidade e atribuem os reveses apenas a fatores externos, por exemplo , a crise, a situação econômica do país, a falta de incentivos ou mesmo o momento político atual.

A depender do tempo que se leva para entender e superar essa barreira psicológica de admitir sua própria responsabilidade,  perdem-se as oportunidades de uma ação efetiva que poderia salvar o negócio de um destino fatídico.

Mas sabemos que a natureza humana tem essas contradições, então o que pode ser feito quando o corpo/empresa já adoecido não encontra meios e alternativas próprias para se recuperar?

Ora, o mesmo que fazemos quando percebemos que é hora de ir ao médico.

Hoje já há no mercado brasileiro, empresas especializadas na gestão e recuperação de empresas adoecidas.

São capazes, através de um diagnóstico preciso e com instrumentos modernos, avaliar quais intervenções são fundamentais à sobrevivência da empresa.

Profissionais sérios serão capazes de pontuar medidas e intervenções cirurgicamente calculadas para recuperação da organização. Isso porque eles verão o negócio com um olhar externo, ético e isento e sem os envolvimentos emocionais que permeiam e dificultam a tomada decisões dos gestores e acionistas.

Mas há que se ter consciência, pois, assim como num paciente que já chega em estado de doença avançado, as intervenções poderão não gerar os  resultados desejados, mas ao avaliar os riscos e benefícios, mas há que se ter coragem e humildade  para pedir ajuda, pois essa pode ser uma alternativa para aumentar as chances de sobrevivência.

Mas há como prevenir a doença?

a)    Atualize-se, procure conhecer ferramentas e aprofundar conhecimentos em cursos de atualização e ou extensão.
b)    Periodicamente contrate auxílio externo, isso ajuda no aperfeiçoamento de processos e ajuda a você ter uma visão de fora da sua empresa;
c)    Tenha um olhar atento sobre fatos e exceções nos processos diários e avalie constantemente os riscos que essas anomalias podem causar;
d)    Ao perceber que essas disfunções podem ser sinais de que algum desajuste maior, reúna sua equipe e discuta alternativas e soluções;
e)    Redobre a atenção sobre o feedback dos seus clientes e funcionários;
f)    Aja rapidamente em caso de necessidade;
g)    Admita que sua competência possa não ser suficiente para consertar as coisas;
h)    Tenha coragem e humildade para pedir ajuda.





(contribuição de Evandro J.P.Varella)

Um comentário:

  1. "... eu só queria separar o que é o campo estrutural e as causas dos problemas de liquidez da empresa, e o que é o campo emocional, onde o stress que isso tudo causa configura a crise para empresário."

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